Espaço da Gestante

Prevenção da Prematuridade (Parte 2: Nutrição / Ômega 3)

Os nutrientes são componentes necessários para uma grande variedade de mecanismos intrínsecos em nossos organismo1. Já há muitos anos, o Professor Barker, demonstrou uma possível relação entre o ambiente intrauterino, incluindo a má nutrição materno-fetal, com patologias na gestação e na vida adulta2. Através dos conceitos atualmente conhecidos de epigenética, incluindo o controle regulatório dos microRNAs, sabe-se que fatores externos podem modificar nossa informação genética, promovendo mudanças intrínsecas e causando doenças no futuro3,4.

Em 2015, uma publicação da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), intitulada Think Nutrition First, ressaltou a importância da nutrição materna e elevou a conscientização sobre o tema, incluindo maior espaço na mídia, congressos e pesquisas científicas5. Dentro do assunto nutrição na gravidez, então incluídos os conceitos de boa alimentação, suplementação ou tratamentos com diversos nutrientes.

Os macronutrientes, por representarem a maior parcela de nossa ingesta nutricional diária, merecem um destaque. Eles espelham a realidade do que ingerimos diariamente em nossa rotina, sofrendo grande influência da sociedade moderna, regiões, hábitos e até costumes locais. Eles são necessários em grandes quantidades diárias e são representados pelas proteínas, carboidratos e lipídios. Dentre os diversos tipos de lipídios, encontram-se os ácidos graxos e, entre estes, os omegas 3, atualmente uma das moléculas mais estudas na medicina6,7,8, particularmente devido a sua relação importante com a redução de prematuridade9. O Brasil é reconhecido por sua baixa ingesta deste importante elemento10(Figura 1).

Em sua última revisão sistemática sobre ômega-3, a Cochrane 9 trouxe relevante contribuição sobre a importância da ingesta adequada de ômega-3 na gestação, seja em forma de alimentação ou suplementação, na redução de parto prematuro. Nesta meta-análise, foram incluídos 70 ensaios clínicos randomizados, totalizando 19.927 pacientes, comparando grupos com ingesta aumentada de ômega-3 e grupos sem ômega-3 ou placebo. Verificou-se uma redução de 11% no risco para parto abaixo de 37 semanas [RR 0.89, (0.81 – 0.97) e uma redução de 42% no risco de parto abaixo de 34 semanas [RR 0.58, (0.44 – 0.77), ambos com alta qualidade de evidência9.

Diante do grande corpo de evidências disponíveis em favor da utilização do ômega-3 na gestação e lactação, o profissional médico deve estar atento para avaliar a real ingesta de ômega-3 de suas pacientes, alertando para ingesta de 2 a 3 porções de pescados por semana. Deve estar atento para orientar a respeito de possíveis pescados não enriquecidos com ômega-3, bem como ao risco da ingesta de peixes de águas profundas ou de locais onde possa existir risco aumentado de contaminação por metais pesados. Em situações em que não é possível realizar o aporte suficiente de DHA, os profissionais assistentes deverão lançar mão da suplementação de DHA.

Referências Utilizadas

  1. Best KP, Gomersall J, Makrides M. Prenatal Nutritional Strategies to Reduce the Risk of Preterm Birth. Ann Nutr Metab. 2020;76:31–9.
  2. Barker DJ, Osmond C. Infant mortality, childhood nutrition, and ischaemic heart disease in England and Wales. Lancet (London, England). 1986;1:1077–81.
  3. Fernandez-Twinn DS, Hjort L, Novakovic B, Ozanne SE, Saffery R. Intrauterine programming of obesity and type 2 diabetes. Diabetologia. 2019;62:1789–801.
  4. Casas-Agustench P, Iglesias-Gutiérrez E, Dávalos A. Mother’s nutritional miRNA legacy: Nutrition during pregnancy and its possible implications to develop cardiometabolic disease in later life. Pharmacol Res. 2015;100:322–34.
  5. Hanson MA, Bardsley A, De-Regil LM, Moore SE, Oken E, Poston L, et al. The International Federation of Gynecology and Obstetrics (FIGO) recommendations on adolescent, preconception, and maternal nutrition: “Think Nutrition First”. Int J Gynaecol Obstet. 2015;131 Suppl:S213-53.
  6. Devarshi PP, Grant RW, Ikonte CJ, Hazels Mitmesser S. Maternal Omega-3 Nutrition, Placental Transfer and Fetal Brain Development in Gestational Diabetes and Preeclampsia. 2019;
  7. Korkes HA, Sass N, Moron AF, Câmara NOS, Bonetti T, Cerdeira AS, et al. Lipidomic assessment of plasma and placenta of women with early-onset preeclampsia. PLoS One. 2014;9.
  8. Gross RW, Han X. Lipidomics at the interface of structure and function in systems biology. Chem Biol [Internet]. 2011;18:284–91. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21439472
  9. Middleton P, Gomersall JC, Gould JF, Shepherd E, Olsen SF, Makrides M. Omega-3 fatty acid addition during pregnancy. Cochrane database Syst Rev. 2018;11:CD003402.
  10. Stark KD, Van Elswyk ME, Higgins MR, Weatherford CA, Salem N. Global survey of the omega-3 fatty acids, docosahexaenoic acid and eicosapentaenoic acid in the blood stream of healthy adults. Prog Lipid Res [Internet]. 2016;63:132–52. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.plipres.2016.05.001

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