Conforme visto em nosso texto anterior, a prematuridade é um problema de saúde publica imenso com repercussões a curto, médio e longo prazos, representando impacto negativo para as famílias envolvidas e para o sistema de saúde, seja ele público ou privado. Diante do cenário devastador que envolve a prematuridade em ampla perspectiva, a sua prevenção torna-se o objetivo principal a ser conquistado.
Por possuir etiologia multifatorial 1 (figura 1), nem sempre os métodos preventivos conseguem ser totalmente eficazes. Entre estes destacam-se a progesterona micronizada, o pessário cervical, a cerclagem uterina, o cuidado com a saúde vaginal, alimentação rica em ômega 3, entre outros…
Dentre os fatores de risco mais conhecidos (Figura 2), destacamos alguns com maior importância clínica atualmente, como a prematuridade anterior, a hiperdistensão uterina e as modificações do colo 2. No texto de hoje, abordaremos a prevenção baseada na avaliação do colo uterino curto.
Entende-se por colo curto, aquele que se encontra abaixo de 25mm. Esta é uma medida realizada por ultrassonografia transvaginal, com profissional médico experiente, de preferência entre 18 a 24 semanas. Embora o conhecimento desta metodologia seja antiga 3, e com vasta literatura mostrando seus benefícios 4, devido aos custos do procedimento, infelizmente ainda não é uma realidade para todas as pacientes em nosso país. Em seu manual mais recente de 2022, o Ministério da Saúde do Brasil, reconheceu a importância deste exame e principalmente da prevenção que pode ser realizada após o diagnóstico do colo curto 5.
Após realizada a ultrassonografia do colo no período habitual, e frente a uma medida abaixo de 25mm, o obstetra assistente deverá instituir a profilaxia para a prematuridade com progesterona natural micronizada por via vaginal, na dose de 200mg a noite, até 37 semanas. Está é uma conduta recomendada pela literatura atual e auxilia na redução de parto prematuro 6. Medidas cervicais muito reduzidas, abaixo de 10mm, devem receber atenção especial e eventualmente, indicam a utilização concomitante de outros métodos, como a cerclagem uterina e o pessário cervical 7.
Sempre que estamos diante de uma paciente com alto risco para prematuridade devido ao colo curto, um seguimento de pré-natal mais atento, com consultas mais frequentes é uma medida importante e auxilia na detecção precoce de quadros iniciais de dilatação cervical, permitindo ao pré-natalista e sua equipe, se anteciparem com métodos diagnósticos e preditivos, bem como decidir pelo melhor momento para uma eventual modificação na estratégia terapêutica, por exemplo internando a paciente, em algumas situações inibindo o trabalho de parto para realização da corticoterapia antenatal, entre outras medidas de suporte ao parto prematuro.
Outros assuntos relacionados a prevenção da prematuridade, como utilização do ômega 3, pesquisa de infecções vaginais, urinárias, entre outros, serão abordados mais a frente.
Referências Utilizadas
- Romero R, Dey SK, Fisher SJ. Preterm labor: one syndrome, many causes. Science. 2014 Aug 15;345(6198):760-5. doi: 10.1126/science.1251816. Epub 2014 Aug 14. PMID: 25124429; PMCID: PMC4191866.
- De Souza E, Fava JL. A Síndrome da Prematuridade. In: Francisco RPV, Mattar R, Quintana SM. Manual de Obstetrícia da Sogesp. São Paulo 2020.
- Gomez R, Galasso M, Romero R, Mazor M, Sorokin Y, Gonçalves L, Treadwell M. Ultrasonographic examination of the uterine cervix is better than cervical digital examination as a predictor of the likelihood of premature delivery in patients with preterm labor and intact membranes. Am J Obstet Gynecol. 1994 Oct;171(4):956-64. doi: 10.1016/0002-9378(94)90014-0. PMID: 7943109.
- Dodd JM, Jones L, Flenady V, Cincotta R, Crowther CA. Prenatal administration of progesterone for preventing preterm birth in women considered to be at risk of preterm birth. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013, Issue 7. Art. No.: CD004947. DOI: 10.1002/14651858.CD004947.pub3
- Manual de gestação de alto risco [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2022.
- Pacagnella RC, et al. Análise das atuais evidências na prevenção da prematuridade: Progesterona e Omega 3 durante a gestação. In: Francisco RPV, Mattar R, Quintana SM. Manual de Obstetrícia da Sogesp. São Paulo 2020.
- Moron AF, et al. Cerclagem e Pessário: Em quem Indicar?. In: Francisco RPV, Mattar R, Quintana SM. Manual de Obstetrícia da Sogesp. São Paulo 2020.